âA importĂąncia do 25 de Julho na atual conjuntura Ă© o enfrentamento direto contra um governo que explicitamente sempre se colocou de forma adversa Ă s pautas essencialmente populares e substanciais para a vida do povo brasileiroâ, destaca MĂŽnica CustĂłdio, secretĂĄria de Igualdade Racial da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
A data foi criada em 1992, durante o 1Âș Encontro de Mulheres Negras da AmĂ©rica Latina e do Caribe, em Santo Domingo, capital da RepĂșblica Dominicana. AlĂ©m de incorporar essa data ao calendĂĄrio de lutas por direitos iguais, no Brasil, foi criado o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra em homenagem a essa importante liderança contra o escravismo.
Tereza se tornou um importante sĂmbolo da luta contra o escravismo ao liderar, apĂłs a morte de seu marido Chico Piolho, o Quilombo de QuariterĂȘ, no sĂ©culo 18, no Vale do GuaporĂ©, no estado do Mato Grosso atualmente.
âImportante conhecer a histĂłria de resistĂȘncia Ă escravidĂŁoâ, afirma VĂąnia Marques Pinto, secretĂĄria de PolĂticas Sociais da CTB, âcom fortes movimentos pela classe trabalhadora da Ă©poca para pĂŽr fim ao sistema que oprimiu os seres humanos escravizados que sustentaram a economia colonial e imperial do Brasil por quase quatro sĂ©culosâ.
A Unegro da capital paulista faz o seu evento no domingo (26), a partir das 15h, com a live Julho das Pretas ressignificando o monumento Ă MĂŁe Preta. O ato ecumĂȘnico cultural pode ser assistido pela pĂĄgina facebook.com/unegrospcapital/.
O dia 25 de julho se tornou uma data marcante para os movimentos de mulheres negras mostrarem Ă sociedade as adversidades enfrentadas ânuma sociedade patriarcal e racistaâ, assinala MĂŽnica. Por isso, ela ressalta a necessidade de âdar visibilidade Ă pauta das mulheres negras, que tĂȘm a pirĂąmide social sobre os seus ombrosâ.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂstica (IBGE), as mulheres negras sĂŁo mais de 55 milhĂ”es no paĂs e chefiam mais de 40% das famĂlias negras e recebem, em mĂ©dia, 58% do que ganham as mulheres brancas. Em relação aos homens brancos, em 2019, elas ganhavam 66% a menos.
âIsso comprova a profundidade do machismo e do racismo na sociedade brasileiraâ, analisa Ana Paula Brito, vice-presidenta do Sindicato dos ComerciĂĄrios do Rio de Janeiro. A pesquisa âDesigualdades Sociais por Cor ou Raçaâ mostra ainda que apenas 29,9% de mulheres negras ou pardas tinham cargos gerenciais no mesmo ano.
AlĂ©m disso, o Atlas da ViolĂȘncia 2019, registrou 4.936 assassinatos de mulheres em 2017, sendo que 66% das vĂtimas foram as negras. JĂĄ na polĂtica, em 2018 foram eleitas somente 10 mulheres negras Ă CĂąmara dos Deputados. âEssa sub representatividade causa prejuĂzos enormes Ă maioria da população, principalmente sobre a criação de polĂticas pĂșblicas para combater as desigualdades gigantescas deste paĂsâ, diz Ana Paula.
JĂĄ Generosa Maria Lima, uma das organizadoras da Marcha das Mulheres Negras de SĂŁo Paulo deste ano, afirma que a pandemia da Covid-19 aguçou as desigualdades. âO racismo estrutural, que se desdobra no racismo institucional, resulta no alto Ăndice de letalidade policial com mais de 70% de vĂtimas negrasâ, acentua. âAlĂ©m das assimetrias imensas que a população negra tem no mercado de trabalho, especialmente nĂłs, mulheres negras, que por mais qualificadas que estejamos, via de regra ganhamos menos e isso Ă© absolutamente naturalizado em uma sociedade que se consolidou pela naturalização da exclusĂŁo das populaçÔes negras e indĂgenas de seus direitos fundamentaisâ.
Por causa da pandemia, a Marcha das Mulheres Negras de SĂŁo Paulo neste ano ocorre virtualmente. Neste sĂĄbado (25), a partir das 14h a marcha pode ser acompanhada pelo facebook.com.mmnegrassp, com o tema âNem cĂĄrcere, nem tiro, nem Covid. Corpos negros vivos. Mulheres negras e indĂgenas. Por nĂłs, por todas nĂłs e pelo bem viverâ.
As organizadoras pretendem dar voz ao âlevante que tanto nos orgulhaâ. Porque âa Marcha tambĂ©m Ă© lugar de afeto, colo, aconchego, ainda que de forma virtualâ, assinala Maria.
Por isso, de acordo com ela, âesta luta Ă© prioritĂĄria para civilizar a nossa sociedade que, diante de tantas violaçÔes dos direitos humanos, permite que isso aconteçaâ e âpor trĂĄs, estĂĄ o patriarcado, o patrimonialismo e a manutenção de privilĂ©gios sociais e, sobretudo, econĂŽmicosâ.
Segundo Maria, a pandemia deixa claro o racismo quando âtemos as pessoas adoecendo de maneira igual, mas o Ăndice de mortalidade Ă© muito maior entre os negrosâ. Por isso, âprecisamos nos organizar e pleitear melhores polĂticas pĂșblicas e exigir do Estado o papel dele na segurança das vidas, com acesso Ă saĂșde para todas as pessoasâ.
Ăngela GuimarĂŁes, sociĂłloga e presidenta da UniĂŁo de Negros Pela Igualdade (Unegro), âo dia 25 de julho representa uma importante conquista do movimento de mulheres negras, voltado para impulsionar uma reflexĂŁo sobre a situação das mulheres negrasâ porque âsabemos que o entrelaçamento das desigualdades raciais, de gĂȘnero e de classe resultam na permanĂȘncia das mulheres negras na pobreza e nas piores ocupaçÔes no mercado de trabalho, maior exposição de nossas vidas Ă violĂȘncia e sub representação nos espaços de poderâ.
Ela destaca ainda que âno contexto da pandemia da Covid-19, que tem ceifado milhares de vidas devido ao descaso e irresponsabilidade do desgoverno Bolsonaro, tambĂ©m sĂŁo as mulheres negras as mais atingidas pelo desemprego e pela pobrezaâ, principalmente âas que chefiam as famĂlias que moram nas habitaçÔes mais precĂĄrias e terminam por ser as mais atingidas pela violĂȘncia domĂ©stica e ainda correm o risco de perder seus filhos, sobrinhos e companheiros nas operaçÔes policiais que seguem matando, no Brasil, um George Floyd a cada 23 minutosâ.
No Rio de Janeiro, a Marcha das Mulheres Negras tambĂ©m serĂĄ virtual, no domingo (26), Ă s 17h, pela pĂĄgina facebook.com/FEMNEGRASRJ/, do FĂłrum Estadual de Mulheres Negras do Rio de Janeiro, com o tema âMulheres negras: resistĂȘncia Ă© nosso nome. Seguimos em marcha contra o racismo, pela saĂșde e pela vidaâ.
A presidenta da Unegro reforça a necessidade de seguir âexigindo polĂticas de trabalho e renda que incluam as mulheres negras, a aprovação de uma polĂtica de renda bĂĄsica permanente para as mulheres desempregadas e em situação de pobreza extrema, fortalecimento das redes de atendimento Ă s mulheres em situação de violĂȘncia, fim das operaçÔes policiais nas periferias e ampliação dos mecanismos de participação das mulheres negras nos espaços de poderâ.
Para MĂŽnica, âa necessidade de dar visibilidade Ă pauta das mulheres negras ocorre para defender o bem comum que se apresenta pela autonomia polĂtica, resistĂȘncia e denuncia do Estado mĂnimo para o povo brasileiro e mĂĄximo para 1% da população que detĂ©m cerca de metade da riqueza produzida no paĂsâ.
Fonte:Â Â Portal CTBÂ –Â 24/07/2020