O debate virtual, coordenado pelo jornal Hora do Povo, apresentou a visão do sindicalismo sobre os maiores problemas nacionais e as alternativas para o enfrentamento dos desafios contemporâneos.
Na última quinta-feira (11/03), lideranças sindicais da Confederação dos Servidores Públicos do Brasil – CSPB e de entidades filiadas e parceiras, participaram de debate virtual coordenado polo jornal Hora do Povo, mediado pelo jornalista Carlos Pereira. Na oportunidade as lideranças apresentaram a visão do sindicalismo sobre os problemas nacionais e as alternativas para o enfrentamento dos principais desafios contemporâneos: vacina, emprego e renda.
Assista:
Síntese das participações
Caos sanitário – “No Distrito Federal, referência nacional em termos de disponibilidade de leitos e atendimento emergencial para a saúde, encontra-se hoje em um verdadeiro ‘Inferno de Dante’, com pessoas morrendo sufocadas por conta de indisponibilidade de leitos e profissionais para prestar atendimento médico. Nesse cenário dantesco, a única preocupação do governo tem sido a de retirar investimentos públicos para atender interesses escusos e injustificáveis, aniquilando a capacidade estatal de reagir a crises como esta”, avaliou o presidente da CSPB, João Domingos Gomes dos Santos.
Representação política dos trabalhadores – “Antes de discutir a falta de vacina, de renda e de emprego, esses problemas estão na raíz daa baixa representação política da classe trabalhadora. Não podemos ter outra agenda que seja tão prioritária quanto renovação dos quadros políticos – do Executivo Federal ao Congresso Nacional – que estejam comprometidos com uma agenda de investimentos para a retomada do desenvolvimento nacional. A revogação da Emenda Constitucional 95, que é a mãe de todas as maldades, está no centro de qualquer inciativa que tenha chances de recuperar o país”, concluiu Domingos
Granada no bolso do servidor – “O esgarçamento do tecido social construído pela Constituição de 1988 é a estratégia do modelo político/econômico em curso. Ele tem como objetivo velado o sucateamento empresas estatais e a demonização das instituições públicas. A PEC 186 representa um modelo perverso de reforma administrativa que vem sendo articulado com a retirada permanente de recursos públicos para financiar um auxílio emergencial necessário, porém provisório e por um curtíssimo período. Essa é mais uma granada no bolso dos servidores e serviços públicos prestes a ser detonada pelo senhor Paulo Guedes. Conseguimos mudar, com muita articulação política, alguns artigos da PEC 186, de maneira a reduzir danos. A luta precisa ser permanente para mitigar os efeitos desse conjunto retrocessos que corroem a soberania do país e a dignidade do nosso povo”, alertou o Diretor Jurídico da Fenapef, Flávio Werneck.
Armadilhas do capital financeiro – O capital se organiza de fora para dentro. As mudanças que o país sofreu nos últimos anos, iniciadas no final do governo Dilma e potencializada nos governos Temer e Bolsonaro, resultou em consequências nefastas com a ampliação descontrolada do desemprego e do controle absoluto do capital financeiro na política econômica. Estes governos vêm desestruturando o estado brasileiro e, com a pandemia, o grupo político dominante encontrou terreno fértil, diante do desespero, para criar armadilhas para promover ‘reformas’ que obtiveram resultado distinto das promessas que as legitimaram, tal como previmos no meio sindical. Como estratégia, o sistema financeiro brasileiro comete crimes orçamentários muito bem disfarçados, sempre utilizando-se do medo e da chantagem para implementar uma agenda de fortalece seus lucros e desmantela o tecido social do nosso país. É preciso manter a população vigilante a atenta à essas armadilhas”, alertou o presidente da Fessp-Esp, Lineu Mazano.
Verdadeiros motivos do déficit fiscal – “O servidor público está sem reajuste salarial desde 2015. Nós estamos vendo hoje uma política desastrosa de saúde pública, muito por conta do negacionismo do governo. Importante recordar que, entre 2008 e 2010, período de crise internacional, conseguimos preservar uma certa estabilidade em patamares melhores que de outras nações no período. O governo Lula, é importante lembrar, deu um pontapé no crescimento econômico do país como nunca antes, colocando o Brasil entre as 6 maiores economias do mundo. Porém, quando a Dilma assume o governo em seu primeiro mandato, ela percebe que estávamos passando por uma crise fiscal preocupante. A perda de receitas, neste período, eram resultantes da equivocada renúncia fiscal promovida, com a promessa dos empresários de manter a empregabilidade, o que não ocorreu, situação que colocou o Brasil em grave déficit fiscal. O advento da Lava-Jato junto com a essa política fiscal desastrosa, colaborou, efetivamente, para amplificar o projeto neoliberal nos espaços de poder”, avaliou o dirigente do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central , Daro Piffer.
Riscos sanitários e econômicos – “O teto de gastos veio na esteira de o governo brasileiro tentar demonstrar ao mercado o compromisso e a capacidade de honrar as dívidas acumuladas. Hoje nós não temos boas perspectivas em curto prazo. O desastre na condução e carência de um plano nacional efetivo de vacinação vai trazer consequências desastrosas, com prejuízos sanitários, sociais e econômicos incalculáveis. O governo não tem projeto de desenvolvimento. Agora foi aprovado que prefeitos e governadores podem comprar vacinas e aplicar. A circunstância de não ter um plano de vacinação centralizado, pode resultar em uma fragmentação perigosa para a imunidade coletiva, caminho mais curto para a retomada do nosso desenvolvimento econômico”, concluiu Piffer.
Mulheres na pandemia – “As mulheres, infelizmente, só ocupam espaços de atuação estratégica com muita luta, circunstância que nos deixa em desvantagem no combate a muitas injustiças. Os dados apontam que a sobrecarga emocional e a sobrecarga social, foram bastante amplificadas para as mulheres ao longo dessa pandemia. A violência que as mulheres sofreram neste período cresceu a níveis assombrosos. Muitas mulheres perderam seus empregos, suas rendas e o equilíbrio emocional. O capital não enxerga as atividades de cuidado que, culturalmente, são exigidas das mulheres, submetendo-as a uma insuportável e extasiante jornada dupla. Isso quando elas, na melhor das hipóteses, conseguem permanecer em um mercado de trabalho que jamais se interessou pela justiça de gênero. Precisamos corrigir essas distorções na esfera política, ampliando nossa representação nos espaços de poder”, sugeriu Katia Cristina, integrante da Frente Paulista em Defesa dos Serviços Públicos.
Armadilhas retóricas – “Este governo não governa. Utiliza-se da maior tragédia humanitária do século para tripudiar em cima do povo. Tentar aprovar a PEC 186 e a PEC 32 vem na esteira de uma onda neoliberal que visa destruir o Estado brasileiro, um autêntico ‘Cavalo de Tróia’ que meche com todo o preâmbulo da Constituição Federal. A falsa racionalidade por traz da responsabilidade fiscal potencializou-se no vácuo de poder dos setores progressistas para se estabelecer. Hoje os ‘donos do poder ‘se utilizam de dados falaciosos de maneira a conquistar a opinião pública para impor uma agenda que, de fato, degrada todos os mecanismos de Estado com potencial de melhorar a vida do cidadão. Os trabalhadores precisam, tanto do setor público ou privado, se unir para reverter esse conjunto de mudanças que retiram seus direitos e desmantelam sua cidadania. Importante a sociedade se manter vigilante de que setores que mais prejudicam os direitos sociais e o equilíbrio fiscal, se enrolam na bandeira nacional mas, na prática, tocam uma agenda antipatriótica, que submete o país a um conjunto incontrolável de retrocessos e desesperança quanto ao futuro”, reforçou o Presidente do Sindicato dos Servidores de Nível Superior do Rio Grande do Sul, Antônio Augusto.
Necropolítica – “A política econômica e de arrocho que está sendo conduzida, vem na sequência de um descompromisso com caminhos óbvios de solução. Na PLOA está com quase 52% do orçamento comprometido com o serviço da dívida. O que o governo precisa compreender é que pra ter renda tem que ter emprego. Se não tem emprego, tem que ter auxílio. Se não temos uma política de desenvolvimento, seguimos com uma política de endividamento. As equivocadas escolhas que foram conduzidas estão no epicentro dos nossos problemas. O que já morreu de aposentado e pensionista com Covid-19, economizou milhões de reais na contabilidade previdenciária. A morte está ajudando a implementação de prioridades da política econômica financista. O que está em curso é um modelo perverso de necropolítica. Vacinas foram recusadas em um passado recente, demonstrando o descompromisso desse governo com a preservação de vidas. Hoje, infelizmente, o cidadão brasileiro tornou-se uma ameaça para o mundo. Brasileiros estão marcados como transmissores das piores e mais letais cepas do vírus. Importante destacar que quem está salvando vidas no meio deste caos são os servidores públicos, não o mercado”, avaliou o Dirigente da Fasubra Sindical, João Paulo Ribeiro “JP”.
Caminhos para a recuperação econômica – “Nosso ponto de vista carece de espaços e visibilidade na grande imprensa, comprometida com a agenda neoliberal. Há um estudo muito importante da FGV que demonstra que trilhões de reais estão sendo subtraídos da renda das famílias, enfraquecendo o consumo e reduzindo o mercado a ser disputado pelas micro e pequenas empresas. A vida humana produtiva está se perdendo, criando cenário irreversível de crise econômica. Precisamos retirar o país desse abismo a partir do fortalecimento do SUS em conjunto com investimentos robustos em educação, ciência. É hora de ampliar o mercado consumidor retomando os investimentos do estado em infraestrutura para potencializar a atividade econômica no setor produtivo, gerador de emprego e renda. O movimento sindical precisa assumir seu papel histórico no caminho de apontar e, na luta política, viabilizar mecanismos para implementar alternativas que, de fato, tenham potencial para reverter a crise que atravessamos”, sugeriu o Diretor Geral do Observatório Sindical Brasileiro Clodesmidt Riane, Sebastião Soares.
Participaram do debate:
João Domingos Gomes dos Santos – Presidente da Confederação dos Servidores Públicos do Brasil (CSPB) e dirigente da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST)
Flávio Werneck – Diretor Jurídico da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) e dirigente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB)
Lineu Mazano – Presidente da Federação dos Sindicatos dos Servidores Públicos no Estado de São Paulo (Fessp-Esp)
Daro Piffer – Dirigente nacional do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal)
Katia Cristina (Katita) – Integrante da Frente Paulista em Defesa dos Serviços Públicos
Antônio Augusto – Presidente do Sindicato dos Servidores de Nível Superior do Rio Grande do Sul e Secretário-geral da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB)
João Paulo Ribeiro – Dirigente da Fasubra Sindical e Secretário de Serviços Públicos da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB)
Sebastião Soares – Diretor Geral do Observatório Sindical Brasileiro Clodesmidt Riane – OSBCR