Secretária de Educação de Araxá defende a proposta
Para a secretária municipal de Educação, Zulma Moreira, tem sido uma tarefa intrincada adequar as instituições de ensino da rede pública municipal à nova realidade trazida pela pandemia de coronavírus. Uma das dificuldades, segundo ela, é o fato de não existir internet de boa qualidade, tanto na rede pública do município, quanto nas residências de alguns alunos. “Sabemos que muitos alunos não têm como receber o atendimento remoto. Então, tivemos que adequar muitas coisas. Nós nunca imaginamos que a pandemia iria atravessar de um ano para outro. Por mais que estivéssemos preparados, a rede pública de ensino municipal e estadual não esperava isso e nos adequar é um grande desafio”, diz.
De acordo com Zulma Moreira, há, na rede pública municipal, escolas muito bem organizadas, novas e modernas, como a Dom Quixote, por exemplo, mas também outras em condições precárias. “Tínhamos escolas que jamais passariam sequer pelo parecer da Vigilância Sanitária, para atender os alunos”, afirma, acrescentando que as circunstâncias obrigaram a Secretaria de Educação a promover reformas em alguns prédios escolares. “Tivemos de fazer reformas na Boca da Mata, em Itaipu, em creches, no Caic”, cita.
Outros fatores que obstaram o trabalho de reajuste da volta às aulas foram a cautela imposta pela operação Malebolge, da Polícia Civil, que descobriu um esquema de desvio de recursos públicos na Prefeitura local, durante a administração passada, por meio de aluguéis falsos de vans. “Isso levou a um cuidado redobrado de nossa parte e atrasou a questão dos ônibus escolares para a zona rural”, explica.
TV EDUCATIVA
No entanto, consoante Zulma, mesmo com essas dificuldades, a pasta conseguiu promover a volta às aulas com bastante segurança. “Conseguimos fazer o retorno de forma muito segura e tranquila. Já tem mais de um mês que houve o retorno das aulas e está tudo dentro do previsto”, avalia.
A educadora conta que está havendo uma parceria com as redes estadual e particular para evitar boatos relativos a contágios por covid-19 entre alunos e professores. “Assim, podemos acompanhar juntos o andamento do processo e evitar essas fake News, essas conversas sem fundamento. A cada semana, ou pelo menos a cada quinze dias, fazemos reuniões entre os diretores das redes municipal, estadual e particular e a equipe da Vigilância Sanitária”, informa.
Zulma Moreira explica que, para incrementar ainda mais a qualidade do ensino, a Secretaria Municipal de Educação irá criar uma plataforma digital de ensino própria, a fim de atender os alunos do município. O ganhador do processo licitatório foi o Centro Universitário do Planalto de Araxá (Uniaraxá), que implantará o programa.
Outra realização relevante é a abertura de uma TV educativa, bancada por recursos advindos do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Araxá (CMDCA). “Nós observamos que nem todos os alunos têm internet, mas que todos têm TV. Então, vimos que precisávamos de uma TV para atender esses alunos”, diz a secretária.
A concessão foi obtida graças a uma exceção instituída na legislação pelo Governo Federal, o que possibilitou a conquista. “Eu acredito que a programação deva ser transmitida pela TV Integração, no canal 12.2, porque as demais emissoras não demonstraram interesse”, adianta.
Consoante a gestora, a Secretaria Municipal de Educação contratou professores conteudistas para ministrar as aulas no canal, a fim de não sobrecarregar os professores nas salas de aula. Isso foi feito porque eles estão dando atenção tanto a alunos no ensino presencial quanto na modalidade remota, online. “Nos primeiros dias, fizemos assim: o aluno recebia aulas presenciais até às 15h30. Desse horário em diante, o professor dava atenção ao estudante que estava em casa”, explica.
De acordo com a secretária, o processo deve estar concluído dentro de no máximo dez dias. “Aí, sim, vamos vincular as aulas no horário normal. O conteúdo vai ser o mesmo, porque o professor da sala de aula o passará para o da TV. O aluno será assistido das duas maneiras e essa TV funcionará o dia inteiro”, relata, explicando que os pais podem optar pelo ensino presencial ou remoto. Eles assinam um termo, no qual se responsabilizam pelo estudo dos filhos a distância, caso decidam pela segunda opção. “Hoje, temos uma adesão de mais de 65% das crianças, em relação ao retorno presencial”, estima.
SEM CORONAVÍRUS
Em relação à pandemia de coronavírus, Zulma garante que, até o momento, não houve nenhum problema com a volta presencial, pois não foi registrado nenhum caso de covid-19 na rede pública de ensino. “Nós temos um protocolo. Se um professor testar positivo, ele é afastado. Se dois testarem, afastamos a turma toda. Se é um aluno, ele é afastado. Se forem mais de dois, a turma toda é. Mas, até o momento, não tivemos nada em todas as redes, municipal, estadual e particular”, assegura.
A secretária se diz preocupada com o prejuízo causado ao desenvolvimento estudantil pelas medidas de restrição contra a covid-19. Segundo ela, a pandemia trouxe um atraso de décadas à educação brasileira. “O aluno terá que resgatar isso em médio prazo. Eu acredito que somente nos próximos dez anos iremos recuperar esse ano e meio que foi perdido. Então, é um prejuízo inenarrável”, lamenta.
Em virtude da interrupção das aulas, a metodologia de ensino teve de regredir, a fim de que os estudantes consigam ter um aprendizado satisfatório. Zulma explica que as aulas de reforço escolar serão mantidas, mesmo com o retorno da integralidade do corpo discente, assim como o ensino por meio da TV municipal. “Tem uma série de medidas que vamos ter que tomar para podermos resgatar o tempo perdido, porque realmente a perda foi muito grande”, sopesa.
A responsável pela pasta da Educação acredita que não seria justo equiparar um aluno carente, da zona rural, sem acesso à internet, com um da área urbana, com acesso a recursos tecnológicos. Por isso, consoante ela, todos foram aprovados, desde que fizessem as atividades preconizadas remotamente, porque uma avaliação escolar normal, nos moldes da que era feita antes da pandemia, poderá ser novamente implantada apenas em 2022. “Esse período é de diagnóstico. A gente tem que remediar, diminuir o prejuízo, pois é impossível recuperá-lo no momento”, comenta.
Para ela, o professor vai ter que se reinventar, a fim de encontrar soluções pedagógicas para o desenvolvimento escolar dos alunos. “Vamos ter que refazer o currículo escolar para diminuir esse prejuízo”, adianta. “E isso, em menos de seis, sete anos, nós não conseguimos”, acrescenta.
RETORNO APROVADO
Zulma afirma que os recursos tecnológicos facilitaram bastante a interação entre pais e professores, possibilitando um contato bem mais ágil entre as partes. “Hoje, temos muito mais participação na reunião virtual do que na presencial”, exemplifica.
Entretanto, a secretária também faz questão de ressaltar a importância do relacionamento interpessoal na sala de aula, para o alcance de melhores resultados pedagógicos. “Esse relacionamento pessoal é muito importante. Nada substitui o professor. Você aprender Física a distância é uma coisa. Com o professor, é outra”, salienta. “O ensino a distância funciona bem para adultos, mas não é o ideal para crianças, pois elas precisam do professor”, avalia.
A gestora acredita que o sistema educacional brasileiro está sofrendo uma metamorfose irrefreável durante a pandemia, com a assimilação de novos métodos de ensino e a absorção de modelos pedagógicos inéditos. “A escola, como era antes de 2019, nunca mais vai existir e isso tem um ponto positivo, porque, com certeza, vamos evoluir”, crava.
Em relação à receptividade dos estudantes ao retorno presencial, Zulma conta que a Secretaria Municipal de Educação se deparou com panoramas antagônicos. Havia alunos sedentos pela volta às classes escolares e outros, mais tímidos, apresentando certa resistência ao retorno. “Alguns alunos disseram: ‘Nossa! Parece um sonho! Estou voltando!’, mas muitos se acostumaram a estudar sozinhos, porque o ensino online acelera o processo de reclusão, de timidez da criança. Muitos pais enfrentam essa dificuldade, mas o certo é todos os alunos retornarem”, apregoa.
De acordo com ela, a parcela de alunos satisfeitos com o retorno das aulas presenciais é esmagadoramente superior à dos que preferem estudar sozinhos. “Noventa por cento dos alunos querem retornar, querem conviver, querem brincar”, diz. “Um dia, eu me encontrei com um aluno meu, do terceiro ano do ensino médio, no supermercado, e ele me disse: ‘Zulma, que saudade de pedir uma borracha emprestada e jogá-la lá no fundo da sala’”, conta, dando um exemplo bem-humorado da falta que o ensino presencial faz na vida das crianças e adolescentes.
ENSINO INTEGRAL
Zulma entende que a escola é um instrumento fundamental para a evolução dos indivíduos. “A família é o primeiro espaço onde se aprende. O segundo é a escola. É na escola que a criança vai aprender limites, vai aprender a observar as diferenças do outro, pois vai compartilhar uma sala com trinta crianças diferentes. A vivência, o entorno da escola são muito importantes para o aluno e insubstituíveis”, pontifica.
A mulher forte da área educacional araxaense informa que as duas maiores demandas da comunidade, no setor educacional, são mais creches e ensino integral. Dentro do tema, a secretária faz um parêntese para lembrar que, durante os dez anos em que foi diretora escolar, houve esse tipo de sistema de ensino nas escolas que dirigiu. Somente no primeiro ano do Governo Zema houve uma tentativa de interrupção, segundo ela.
Justamente por ser uma defensora desse tipo de ensino e por haver essa demanda da comunidade, ela promoveu sua implantação, inicialmente, em duas escolas do município. O Oratório Nossa Senhora Auxiliadora, no bairro Boa Vista, e a AABB Comunidade, na Estância Hidromineral do Barreiro, foram as instituições escolares escolhidas para abrigar a modalidade.
No parecer da secretária, a Prefeitura precisa atender essas demandas da coletividade e implantar mais creches e escolas com integralidade de ensino, no município. “A educação integral é muito requisitada e muito ampla. Naquele espaço, o aluno vai ter atividades desportivas, artísticas, auxílio pedagógico, e estará bem atendido”, avalia.
Seguindo essa filosofia de trabalho, a expectativa da Secretaria Municipal de Educação é abrir novos espaços de ensino integral, ainda no segundo semestre deste ano. “Em setembro, vamos passar a atender crianças até três anos. Por enquanto, estamos atendendo até quatro. De acordo com a evolução da pandemia, vamos diminuindo a faixa etária. Se continuar nesse patamar de tranquilidade, vamos ampliar o atendimento, com certeza”, revela.
Zulma narra que, como havia material escolar em estoque na pasta, houve distribuição a alunos carentes. Consoante ela, a Secretaria pretende dar início a um processo licitatório para adquirir mais kits pedagógicos, principalmente uniformes, cuja quantidade é insuficiente para suprir a demanda, na cidade, devido ao crescimento dos alunos, que não cabem mais nas peças de vestuário.
SIM À MUNICIPALIZAÇÃO
Também estão sendo feitas pequenas adequações nas instituições de ensino, visando a enquadrá-las nas novas diretrizes da Vigilância Sanitária. “Há casos em que a escola está em boas condições, mas tem vitrôs. Aí, você tem que colocar janela. Tem uma mesa no refeitório onde os alunos ficam sentados muito próximos. Tem que ampliar. Essas adequações são muito difíceis e onerosas, e quando retornarem todos os alunos, teremos que fazer mais”, adianta. “É um período de adaptação, em que muita coisa terá que mudar nas escolas”.
Como exemplo de escola ainda sem condições para atender o corpo estudantil, Zulma cita o Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (Caic), que está com apenas 30% de sua capacidade ocupada. “Lá não tem como atender. Por isso, vai passar por uma reforma agora”, diz.
No referente à municipalização do ensino, a secretária esclarece que a Constituição de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) rezam que as responsabilidades pelo ensino são solidárias, divididas entre os entes federativos, mas, no que respeita aos ensinos infantil e fundamental, a preferência é dos municípios. Devido a isso, ela lembra que várias escolas estaduais já foram absorvidas pela rede pública municipal, desde 1998.
A responsável pela pasta da Educação informa que, atualmente, está em estudo o projeto “Mãos dadas”, lançado pelo Governo do Estado, que propõe a absorção, pelo município, de alunos do primeiro ao quinto ano, principalmente em cinco escolas estaduais, que oferecem ensino voltado exclusivamente para esses anos letivos: Delfim Moreira, Eduardo Montandon, Pio XII, Lia Salgado e Padre João Botelho. Em troca, o Estado oferece diversas contrapartidas. “Tenho muita experiência no plano de atendimento, que consiste na divisão dos alunos entre escolas do município e do Estado. Há escolas que têm um corpo de professores excelente e uma rede física privilegiada, mas ficam com salas ociosas. Poderíamos replanejar, readequar, redividir os alunos”, explica. “Então, eu acredito que poderíamos, sim, aderir ao projeto proposto, mas essa é uma discussão que vai para a Câmara e vamos apresentar os argumentos favoráveis, como outros deverão apresentar os contrários. Mas, de minha parte, defendo que a municipalização deva ser feita”, conclui.
No referente ao assunto, já tramita na Câmara Municipal o Projeto de Lei n° 116/2021, de autoria dos vereadores Professora Leni (PT), Dirley da Escolinha (PROS), Dr. Zidane (PP), João Veras (PSD), Maristela Dutra (Patriota), Pastor Moacir (Republicanos), Valtinho da Farmácia (PP), Wagner Cruz (DEM) e Wellington da Bit (PSD). O projeto estabelece critérios para a absorção da gestão do ensino fundamental das escolas públicas estaduais pelo Município de Araxá.
fonte Correio de Araxá